sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O Urso Hibernou


Em 2010, o Memphis Grizzlies fez uma contratação pouco badalada. Trouxe para a equipe o ala-armador do Boston Celtics Tony Allen por uma pechincha (10 milhões por 3 anos). Pechincha porque naquele mesmo ano, para a mesma posição os seguintes jogadores tiveram salários superiores ao de Allen: 

Anthony Morrow (12mi/3 anos)
Ronnie Brewer (12,5mi/3 anos)
John Salmons (40mi/5anos)
Randy Foye (8.5mi/2 anos)

Poucos esperavam que o impacto dessa contratação seria tão grande.

Sem Tony Allen, a franquia tinha ido aos playoffs apenas 3 vezes. Com Allen, a equipe jamais deixou de fazer playoff (5 temporadas seguidas). Sem Allen a equipe jamais passou do primeiro round. Com Allen já passou 3 vezes dessa fase, inclusive fazendo final de conferência em 2013.

Claro que a equipe contou com a evolução de diversos jogadores que já estavam no elenco como Marc Gasol e Mike Conley. Allen não é, nem nunca foi, o principal jogador dessa equipe. Mas não dá pra negar que ele dá a cara a ela. É a alma do time e personifica o espírito da equipe.

Numa era onde um ala-armador da NBA precisa acertar pelo menos 40% dos seus arremessos de 3 pontos, Tony Allen passa longe da marca, acertando menos de 30% na carreira. O desempenho pífio da temporada regular ainda parece excelente quando comparado com os playoffs, onde as defesas dão menos espaço. Em playoffs a média de Tony Allen é de inacreditáveis 10%.

Como ele pode ser tão importante tendo esse tipo de número? Simplesmente porque ele compensa na defesa. Capaz de atrasar praticamente qualquer jogador de perímetro, Allen é uma peste como defensor. Não dá sossego pra ninguém e entra na cabeça dos adversários em playoffs. Com ele, a defesa do Memphis se tornou uma das melhores da NBA. Campanhas de 50 vitórias por temporada começaram a se acumular e o Memphis deixou de ser franquia minúscula e passou a ser um temido oponente jogando aquele basquete mais tradicional. 

Os dois grandalhões no garrafão (Marc Gasol e Zach Randolph) são o centro da equipe, tanto na defesa quanto no ataque. Enquanto a maioria das equipes tem apenas um jogador de PESO para o garrafão, o Memphis sempre contou com essa dupla sinistra e um reforço interessante vindo do banco. Kosta Koufos, Ed Davis, Brandan Wright... A ideia é vencer o jogo no interior, perto da cesta e ali fazer a sua vantagem para vencer os jogos. No perímetro Allen e Conley são excelentes marcadores. O basquete não é vistoso como o das outras excelentes equipes do Oeste, mas vence a grande maioria dos jogos.

Pelo menos vencia. 

O começo da temporada tem sido preocupante. É perigoso apostar contra uma equipe que encontrou tanto sucesso jogando dessa maneira, mas arrisco dizer que a fórmula tá vencida. O ataque do Memphis é simplesmente o pior da NBA. Entre as 30 equipes, ninguém faz menos pontos que eles. Conley e Gasol estão irreconhecíveis nessa temporada. Ainda é bem cedo na temporada (hoje farão apenas a décima partida no ano) e eles tem tempo de sobra para encaixar a defesa e voltar a vencer seus jogos, mas a impressão que tenho é que a falta de alternativas dentro do elenco estão prejudicando demais. Tudo bem que Tony Allen não seja um especialista em tiros de 3 pontos, mas não dava pra trazer unzinho que fosse e colocar no elenco?

A equipe como um todo acerta 26% das tentativas de 3 pontos e mesmo o fato da equipe não arremessar tanto daquela posição, apenas torna a equipe ainda mais previsível. Também é esperado que depois de 5 anos batendo e apanhando barbaridade nos garrafões, Gasol e Randolph começassem a dar sinais de declínio. Ainda mais sem espaço pra trabalhar.

A pergunta que fica é: se Tony Allen é a cara da equipe, como essa equipe se encaixa para onde a NBA tá indo?

Essa semana a franquia se mexeu e trouxe Mario Chalmers, armador bicampeão pelo Miami Heat. Ele veio em uma troca pelo esloveno Beno Udrih. Chalmers é um arremessador até decente, mas nessa temporada fez apenas 1 cesta de 3 pontos em 11 tentativas.

Hoje a equipe tenta reencontrar o seu bom basquete enfrentando um adversário conhecido. A equipe recebe o Portland Trailblazers, justamente a franquia que o Memphis derrotou nos últimos playoffs. Os Blazers que contavam então com LaMarcus Aldridge e Nicolas Batum foram eliminados por 4 a 1 e acabaram fazendo uma renovação completa no elenco, mesmo assim estão com campanha superior aos Grizzlies nesse momento. 

Quem sabe uma surrinha no freguês seja justamente o que o Memphis Grizzlies precisa pra voltar aos trilhos. Ficarei na torcida pois o que o Warriors faz é insano, o que o Spurs faz é lindo, mas o mundo precisa das diferenças e o que o gordinho faz em Memphis também é muito bacana.


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